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Segundo e último álbum de estúdio gravado por Amy Winehouse, Back to Black foi uma sensação geral no mundo da música. Lançado oficialmente em outubro de 2006, o disco alcançou progressivamente os números mais altos dos rankings musicais, as notas mais altas em revistas especializadas e críticas elogiosas, focando principalmente na evolução de Amy Winehouse e sua ousadia em guinar a criação musical para algo menos jazzístico-clássico, uma espécie de antônimo de Frank, o seu primeiro álbum.
A própria cantora, em entrevistas posteriores, disse que não queria seguir na mesma pegada do jazz “puro”, com acordes mais complexos, harmonias que precisavam de maior cuidado, retoques e revisões. Sua intenção era trazer algo mais despojado, mais… “popular”, e por isso mesmo percebemos que Back to Black se aproxima de ritmos, tons e melodias realmente mais diretas, embora ainda traga um excelente trabalho de musicalização.
O mix de estilos e a maior liberdade que Winehouse teve para trabalhar fez de Back to Black um grande acerto musical. Seus produtores permitiram maiores experimentações e até apoiaram o trilha mais soul/R&B que a cantora propunha. Também as composições sofreram uma sensível alteração. Enquanto o tom quase prepotente (alguns geniais) das letras de Frank apontavam para uma independência feminina em relação ao homem e uma “pouca importância” dada ao relacionamento; em Back to Black, o tom é de uma amargura genuína, algo vindo da vida pessoal da artista, que acabara de terminar um relacionamento e esteve, em meados de 2005, com sérios problemas relacionados a drogas pesadas e álcool.
Essa postura nada defensiva e mais ousada se faz sentir em todo o álbum. Já de início, o grande single do disco, Rehab, é uma canção visivelmente pessoal e impossível de não “viciar” que a ouve. Ritmo, cadência de notas, forte realismo e melodia tornaram Rehab um verdadeiro hit musical, e certamente serviu como cartão de visitas para a venda do disco, que em pouco tempo já era um dos maiores sucessos no Reino Unido, voltando ao topo de venda em 2011, quando a cantora morreu, aumentando também o número de downloads e alcançando o primeiro lugar no iTunes em diversos países.
Temos em seguida o pessimismo melódico e a verdade nua e crua de You Know I’m no Good, que apesar de maravilhosamente bem cantada traz algo na letra algo que pode ser contestado por muitos fãs de certos Bonds: uma citação elogiosa a Roger Moore.
Me and Mr Jones tem a cara de r&b dos anos 50-60, com vocal feminino durante toda a canção e forte toque na marcação de ritmos, mesmo com instrumentos melódicos. Just Friends foi um dos hits do álbum e uma das canções mais seguras, mais simples e mais poderosas. Na voz de Amy Winehouse a mensagem e a própria música tornaram-se ainda mais interessantes e chamativos. Assim é o caso de Back to Black, a música-título do álbum. Não se trata de algo simples como Just Friends, mas traz o meso poder na voz e a mesma potência musical encontrada em Rehab – mais compassada, dissonante e com vocal acompanhando alguns trechos.
Love is Losing Game se opõe a Tears Dry on Their Own. Duas canções com composições absolutamente fantásticas (embora eu goste muito mais da letra da primeira, por considerá-la mais poética) e com visões ou posições diferentes – talvez também momentâneas – em relação ao amor. No caso de Tears Dry, temos uma mudança no final, com tons ascendentes e maior exposição vocal da cantora. Wake Up Alone é outra canção musicalmente simples, onde o verdadeiro trabalho está na voz da intérprete, que no refrão volta com o vocal de acompanhamento, mais uma vez lembrando o soul sessentista.
O mesmo clima intimista é visto em Some Unholy War, uma canção bastante subestimada e que a cantora gostava bastante, tanto que sempre caprichava nos arranjos em suas performances na TV ou acústicas (para a BBC) quando ia cantá-la. He Can Only Hold Her é o tipo de música que eu chamo de “fim de álbum”, não no sentido negativo que parece, mas como um elogio mesmo, por ser bem escolhida para a posição, pela letra e composição musical, que fecha o ciclo melódico apresentado em todo o disco.
Back to Black também foi a sensação do 50º Grammy Awards, levando os prêmios de Gravação do Ano (Rehab), Canção do Ano (Rehab), Artista Revelação (Amy Winehouse), Melhor Álbum Pop e Melhor Interpretação Vocal Feminina (Rehab – Amy Winehouse).
Antes da morte de Amy Winehouse, muitos críticos de música e mesmo outros analistas falavam da promessa que a artista fizera: após a recaída que teve em seguida ao lançamento de Back to Black, conseguir se livrar das drogas, ter um filho e então gravar um álbum que ela já estava preparando. Hoje, ficamos imaginando o que poderia vir em seguida. Com o lançamento do primeiro álbum póstumo da cantora, Lioness: Hidden Treasures, tivemos contato com outras gravações suas, demos de canções que entraram com outro arranjo para Frank ou Back to Black, e algumas inéditas. É de se lamentar uma perda tão grande para a música, mas nunca deixar de apreciar tão potente trabalho.

2006 | BACK TO BLACK

01 | Rehab
02 | You Know I’m No Good
03 | Me & Mr Jones
04 | Just Friends
05 | Back to Black
06 | Love Is a Losing Game
07 | Tears Dry on Their Own
08 | Wake Up Alone
09 | Some Unholy War
10 | He Can Only Hold Her
11 | Addicted

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